domingo, 24 de julho de 2016

A Rua das Ilusões Perdidas - John Steinbeck

“Cannery Row é um poema, um mau cheiro, um rangido, um tipo de luz, uma cor, um hábito, uma nostalgia, um sonho.”
Essa é a frase de abertura de “A Rua das Ilusões Perdidas”, um dos romances de Steinbeck. Provavelmente um dos mais importantes. Certamente um dos mais populares que ele escreveru (ao loado de “Ratos e homes” e de “As vinhas da ira”).
E já entrega boa parte do que o livro, chamado “Cannery Row” no original, vai ser. A descrição de um lugar e de suas pessoas. Mas não qualquer lugar: um lugar sujo (mau cheiro), barulhento (rangido), e idealizado (um sonho).
E o livro é exatamente isso: uma idealização de um lugar que, apesar da pobreza material, tem gente que faz o mundo valer a pena.
A ideia de Steinbeck fica ainda mais clara se você lê o que vem abaixo. Depois de descrever o cenário, ele fala sobre como vão ser as pessoas que ali habitam.
“Seus habitantes são, como o cara disse uma vez, ‘prostitutas, cafetões, apostadores, e filhos da puta’, com o que ele queria dizer Todo Mundo”.
“Se ele tivesse olhado de outra maneira, poderia ter dito ‘santos e anjos e mártires e homens sagrados’ e teria significado a mesma coisa.”
Esse é o tipo de imagem que Steinbeck quer passar. Seus personagens muitas vezes estão no fundo do poço. Não só não têm dinheiro como têm sérios desvios de conduta (bebida, roubo, mentiras). Mas ele os perdoa devido à situação em que estão e em que foram criados.
Mais do que isso. Promove-os a santos. Em meio a um mundo de aparências, onde a maior parte das pessoas quer riqueza, luxo, ostentação, as prostitutas baratas e os bebuns de seus livros seriam os únicos “puros de coração”.
Sim, estamos falando de um livro quase ingênuo. A era é a que se segue à grade depressão econômica norte-americana (o livro é escrito em 1944) e Steinbeck conta a história da Califórnia bem diferente da que imaginamos hoje.
Seus personagens não eram novidade na literatura americana. Outros autores, como Mark Twain e Hemingway, vinham falando de regiões empobrecidas e de trabalhadores braçais.
Mas Steinbeck leva a coisa um pouco adiante. Na sua rua, quase necessariamente é preciso ser pobre para ser bom.
O livro mostra o contraste entre um bando de perdidos na vida e um cientista (que representa um amigo real de Steinbeck), conhecido como Doc. Ele estuda biologia e vive no mesmo lugar que os outros, embora tenha estudo e cultura.
Mas Doc entra na lista dos puros de coração de Steinbeck. E é uma espécie de herói local para os outros que, por gostarem dele e saberem que ele é importante para todos na região, decidem fazer uma festa no seu aniversário.
O livro conta como os bebuns conseguem estragar a festa toda. Mas, mesmo assim, Doc se emociona profundamente com o calor humano que levaram até ele.
É um livro que tenta traçar um perfil da bondade humana e da necessidade que temos um do outro.
Que fala sobre como poderíamos tentar algo diferente, apesar de nossos erros e de nossos problemas. E que defende que a felicidade pode ser alcançada de qualquer jeito.
Steinbeck era bom no que fazia. Levou o Nobel pelo conjunto de sua obra. Mas nunca virou uma unanimidade. Pela descrição de sua visão do mundo, é fácil entender o porquê. Mesmo para quem não pensa assim, porém, o livro é rápido, divertido e inteligente. ( Gazeta do Povo )

******************************************************
John Steinbeck é daqueles escritores que, quando um livro dele cai na sua mão, você o coloca na frente de todos os outros que aguardam leitura e o devora rapidamente. Não é à toa que o norte-americano é um Nobel.

“A rua das ilusões perdidas”, 207 páginas, é um delicado livro, com personagens fortes, que – como é comum na obra de Steinbeck – não fala de príncipes, princesas e nobres, mas das pessoas pobres, das prostitutas, dos vagabundos, do pequeno comerciante, do profissional liberal que luta todo dia.

Também tem um quê de autobiográfico, pois Steinbeck tem, no seu passado, um pouco de alguns dos personagens que retrata.

Gosto muito de Steinbeck. Ele, junto comJack London e Mark Twain, forma um tipo de literatura norte-americana que chacoalha realidade das ruas e campos e que balança o pensamento da gente. Este trio, em épocas diferentes, não escreveu livros para alienações, mas para ficar no tempo.

Algumas frases da obra:

“De que serve a um homem conquistar o mundo inteiro e voltar para a sua casa com uma úlcera gástrica, a próstata arrebentada e óculos bifocais?”

“Nosso Pai que está na natureza, que concedeu o dom da sobrevivência ao coiote, ao rato comum, ao pardal, à mosca e à mariposa, deve ter um grande irresistível amor pelos chamados imprestáveis, os vagabundos (...).”

“Ninguém jamais estudou a psicologia de um fim de festa. Pode estar no mais acesso, uivando, fervendo, mas de repente parece que baixa uma pequena febre, surge um pequeno silêncio. E no instante seguinte a festa começa a acabar, depressa, bem depressa, os convidados indo para casa, dormindo no próprio local ou se mandando para outro lugar. E, depois, só resta o silêncio.”

“É que existem duas reações possíveis ao ostracismo social: ou um homem emerge determinado a ser melhor, mais puro e generoso ou desanda para o mal, desafia o mundo e faz coisas ainda piores. A segunda é a reação mais comum ao estigma social.”

“Todos os nossos homens supostamente bem-sucedidos são doentes, com estômagos ruins e almas piores.”

“Sempre me pareceu muito estranho. As coisas que admiramos nos homens, bondade e generosidade, franqueza, honestidade, compreensão e sentimento são os elementos do fracasso em nosso sistema. E as características que detestamos, astúcia, ganância, cobiça, mesquinharia e egoísmo, são os fatores do sucesso. Enquanto os homens admiram as qualidades que citei, adoram o resultado das outras características.”

“Quem vai querer ser bom se também está com fome?”

“A venda da alma para se conquistar o mundo é completamente voluntária e quase unânime.”

“É muito fácil dizer ‘o tempo tudo cura, isso também vai passar, as pessoas esquecerão’ e outras coisas do gênero, quando não se está diretamente envolvido. Mas, quando se está, o tempo parece que não passa, as pessoas não esquecem e se fica no meio de uma situação inalterável.”
Antônio Rodrigues de Lemos Augusto


********************************************
O título original é “Cannery Row”.
E, assim, o autor inicia o romance:
“Cannery Row, em Monterrey, Califórnia, é um poema, um mau cheiro, um rangido, uma qualidade de luz, uma tonalidade, um hábito, uma nostalgia, um sonho.”

“A Rua das Ilusões Perdidas”, do Prêmio Nobel, John Steinbeck, é um livro simples, mas humano e verdadeiro, e por vezes bem humorado. São histórias do cotidiano da pitoresca rua. É sobre o que realmente importa e faz sentido. A convivência dos personagens da citada rua e suas amizades, habitada por pescadores, trabalhadores braçais, bêbados, vagabundos, prostitutas e várias outras pessoas com problemas sociais, que, quase em sua totalidade vivem na pobreza, mas que são pessoas de “bom coração” e, que fazem o mundo valer a pena.
O livro é de 1945, poucos anos depois, da grande depressão econômica norte americana que teve início, em 1929, e se entendeu pela década de 30.
O romance mostra o contraste entre um grupo de amigos que levam uma vida sem compromisso moral e social, liderados por Mack, e um cientista (baseado em um amigo real de Steinbeck), conhecido por Doc, que coleta espécies para vender para institutos de pesquisa. Doc vive em um laboratório de biologia. Steinbeck o descreve mais ou menos assim:
“Doc tem as mãos de um neurocirurgião e a mente controlada. É do tipo que leva os dedos ao chapéu para cumprimentar um cachorro, quando passa de carro... Pode matar qualquer coisa por necessidade, mas nem sequer magoa um sentimento por prazer... Doc tornou-se a fonte de filosofia, ciência e arte."


Doc vira uma espécie de herói e conselheiro da rua, e por gostarem tanto dele, Mack e seus amigos decidem dar uma festa surpresa de aniversário, só que os bebuns estragam tudo, fazendo a maior arruaça, antes mesmo de Doc chegar. É a história entre a bondade humana e a necessidade que temos um do outro, provando que a felicidade surge em qualquer lugar. E dessa forma poética, ilusória e onírica, o autor conta-nos, essas histórias de Cannery Row, que surgem por livre e espontânea vontade.


Trechos:
“De que serve a um homem conquistar o mundo inteiro e voltar para sua casa com uma úlcera gástrica, a próstata arrebentada e óculos bifocais.”


“As coisas que admiramos nos homens, bondade e generosidade, franqueza, honestidade, compreensão e sentimento são os elementos do fracasso em nosso sistema. E as características que detestamos, astúcia, ganância, cobiça, mesquinharia e egoísmo, são os fatores do sucesso. Enquanto os homens admiram as qualidades que citei, adoram o resultado das outras características.”


Realmente é um bom livro, interessante e inteligente, que vale a pena ser lido e apreciado.
Mas, em minha opinião, os dois livros anteriores que li, de John Steinbeck, me agradou mais. Trata-se de “Ratos e Homens” (1937) e “A Pérola” (1945). São tramas simples e ingênuas também, só que são histórias muito mais envolventes e emocionantes.
Jefferson Carlos Rossi

Um comentário:

  1. estou maravilhado com a obra desse genial escritor norte americano john steinbeck sua obra esta me ensinando bastante, agradeço ao demonio socratico pela descoberta desse genial steinbeck.

    ResponderExcluir