sábado, 23 de julho de 2016

Os Machões Não Dançam - Norman Mailer

Ao acordar, depois de uma noite de embriaguez, Tim Madden não consegue se lembrar dos acontecimentos da véspera. Aos poucos, porém, este escritor desconhecido - ex-barman, ex-motorista, ex-presidiário - se vê envolvido por uma rede de indícios que o colocam no cerne de uma perigosa trama. Em seu braço direito, descobre uma tatuagem que até então jamais existira. No interior de seu carro, se depara com um rio de sangue. E, no local onde guarda sua maconha, encontra a cabeça decepada de uma loira muito parecida com sua ex-mulher. Sob o domínio da violência e do sexo, velhas obsessões de Mailer (que já recebeu dois prêmios Pulitzer), um romance policial à altura do talento de um dos mais controvertidos autores da moderna literatura norte-americana.

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Tim Madden acorda com uma bruta ressaca, após uma noitada daquelas. Ao sair de casa, descobre que o banco da frente de seu carro está empapado de sangue. Em sua plantação particular de maconha, outra surpresa o aguarda: a cabeça decepada de uma mulher está enfeitando suas folhas de marijuana. Para piorar, Madden é incapaz de lembrar o que aconteceu na noite anterior.

Assim começa “Os Machões Não Dançam”, talvez a obra mais conhecida de Mailer. O fascínio maior do livro é o mundo sórdido e brutal criado pelo autor, com direito a muitas situações degradantes e personagens degradados. Não é uma leitura edificante, sem dúvida!!!

Norman Mailer é o típico “escritor-personagem”, a celebridade conturbada e problemática que muitas vezes chama mais a atenção que os livros que produz. Bukowiski seria o clássico exemplo dessa categoria. No caso de Mailer, sua prosa ensandecida é uma das maiores responsáveis por essa “aura”: ao lê-lo, temos a impressão de que Mailer seria capaz de arrastar qualquer mulher para a cama ou de encarar qualquer sujeito numa briga, usando os piores truques nos dois casos.

A primeira vez que li esse livro foi um choque absoluto. Poucas vezes lembro de ter lido algo tão impactante. A segunda leitura não teve o mesmo sabor cáustico, mas ainda assim foi uma paulada!!!

Uma curiosidade: o livro ganhou uma versão cinematográfica, mas no Brasil o título foi traduzido para “Homens Roxos Não Dançam”, porque o filme foi lançado na era Collor!!!

(Fábio Shiva )

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Apesar de estar taxado como 'romance policial' ele parece ir algo além do comum no estilo, o Normam Mailer é um escritor sagaz, que escreve com ares de poeta maldito, se é que tenho cacife para opinar a respeito...
Ele vai em um ritmo puxado, narrando uma história com ares de fantástico, o personagem que por vezes esquece o que fez nos porres da noite anterior, um belo dia acorda com o banco automóvel do passageiro sujo de sangue, e depois encontra a cabeça de uma loura dentro de um saco plástico, em um buraco no chão em um canto da sua plantação de maconha !
Além disto tudo é permeado por um ambiente bastante 'sexual' na falta de definição melhor, então estes ingredientes já prometem algo diferente do usual no estilo policial.

Nesta série, lá no fim do livro sempre vem uma seção intitulada 'VIDA E OBRA' , que é de inestimavel valor para conhecer e avaliar mais sobre os grandes autores que aparecem , tem uma linhas bem interessantes sobre Norman Mailer que reproduzo a seguir :

---"Num importante ensaio, que definira as linhas mestras de seu pensamento, ele via o existencialista americano no hipster.
O texto, intitulado 'The White Negro', foi publicado pela primeira vez em 1957 e incluido dois anos depois, no livro 'Advertisements for Myself'.
A palavra hipster - que já fora utilizada anteriormente aqui e ali, como no pema 'Uivo' (1955 ), de Allen Ginsberg ( 'hipsters com cabeça de anjo' ) -merece pela primeira vez maior atenção no ensaio de Mailer, numa nota aquele ensaio, intitulada Hipster e Beatnik, e incluida no mesmo livro, ele traça as semelhanças e diferenças entre um e outro. Ambos tem em comum as seguintes características gerais :
"a maconha, o jazz, pouco dinheiro e o sentimento de que a sociedade é a prisão do sistema nervoso". No entanto, o beatnik vem da classe média, é pacífico e politizado e apresenta tendecias psicoticas, enquanto o hipster, de origem proletária, é violento e apolitico e tem tendencia psicopaticas...
É como psicopata que ele aparece em The White Negro :
"O explorador no oeste selvagem da vida noturna americana" que "mata - se tiver coragem - pela necessidade de purgar sua violência, pois, se não pode esvaziar-se de seu ódio, não pode amar". Para ele, "a única resposta vital é aceitar os termos da morte, é conviver com a morte como perigo imediato, é divorciar-se da sociedade, viver sem raízes, lançar-se naquela viagem desconhecida rumo aos imperativos rebeldes do eu... "
Os 'imperativos do eu' são assumidos em face da total ausencia daqueles imperativos que guiavam o homem anteriormente. Assim , num mundo sem deus - ou seja, sem qualquer valor moral absoluto ao qual apegar-se -, o assassinato e o sexo, por envolverem uma expressão violenta do eu em relação ao outro, adquirem uma dimensão fundamental....
Como não ver os ecos dessa filosofia que privilegia os sentidos, a violencia e o sexo em 'Os machões não dançam', sob as vestes do romance policial ? Aqui , o genero literario se casa á perfeição com uma certa visão de mundo e, independentemente do pensamento do autor e do lugar que o livro ocupa no conjunto de sua obra,, ele pode ser lido como um simples thriller.
Pois o virtuosismo de Mailer faz com que ele se mantenha fiel as regras do gênero....."---

Parece que o valor literário de Norman Mailer promete....
Fica a recomendação de 'Os machões não dançam' para qualquer bom leitor querendo um pouco de verve literária da boa.  ( Müller )

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