sábado, 23 de julho de 2016

ABC de Castro Alves - Jorge Amado


Neste ABC de Castro Alves, que define como uma "louvação", Jorge Amado mostra que sua relação com o "poeta dos escravos" não é apenas de admiração literária, mas de profunda identificação pessoal, tanto no plano estético como no político e ético.
O autor não se limita a reconstituir, com talento e imaginação de ficcionista, a vida pública e privada do retratado, mas busca também fazer reverberar a potência de sua poesia, cujos motivos centrais são o amor e a liberdade.
Jorge Amado nos mostra que há uma coerência entre a biografia do poeta e sua poesia. Seus amores intensos, sua ativa militância em prol da Abolição e da República, sua personalidade arrebatadora, tudo isso se traduz na veemência de seus versos.
Escrevendo em 1941, momento crítico da Segunda Guerra, quando o Brasil ainda não entrara no conflito, o autor chama a atenção para o caráter engajado e libertário de Castro Alves. Nesse contexto se explicam as diatribes de Jorge Amado, nas notas, contra Machado de Assis e Mário de Andrade, vistos por ele como artistas que se esquivaram da luta política.
Circunstâncias históricas à parte, ecoam nessas páginas as palavras mais calorosas do poeta que amou intensamente e conflagrou as ruas de Salvador, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo antes de morrer precocemente, aos 24 anos.ABC de Castro Alves - Jorge Amado - Muito embora o próprio autor classifique de louvação seu estudo, advertindo ser "um livro pobre de bibliografia" e tratar-se mais especificamente de "uma biografia do poeta que mesmo do homem", a verdade é que, bem ao contrário, o texto demonstra ter sido lido e exterminado tudo ou quase tudo anteriormente publicado sobre Castro Alves, além disso, todos os passos mais importantes da breve caminhada do poeta pelo mundo são acompanhados pelo biógrafo.
Relatada em forma de conversação meio lírica e afetuosa, mas resultando substancialmente num hino às liberdades essenciais como fundamento para inteira garantia dos direitos do homem.
O mundo atravessava, na ocasião em que o livro foi escrito, um dos momentos difíceis da História e a nossa pátria sofria também sob o guante da ditadura estado-novista, circunstâncias essas que dão àquele trabalho literário a significação de um corajoso pronunciamento como contribuição à luta pela restauração da Democracia.
Terminado de escrever na Urca, no Rio de Janeiro, a 21 de março de 1941, o livro foi lançado em 1ª edição pela Livraria Martins Editora, de São Paulo, no mês de agosto de 1941, quando o autor, por motivos políticos, se encontrava no Prata, tendo sido proibida sua vendagem e exibição nas livrarias pela censura do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Constava a edição príncipe de 386 páginas e era ilustrada por Santa Rosa Júnior. Passou a integrar a coleção Obras Ilustradas de Jorge Amado, da Livraria Martins Editora, de São Paulo, como quinto tomo, volume VII, com capa de Carybé, ilustrações de Iberê Camargo e retrato do autor por Carlos Scliar até a 24ª edição, 1975, quando foi liquidada a dita empresa, passando à Editora Record, do Rio de Janeiro, a exclusividade das editorações, sendo lançada a 25ª edição, 1977, com 327 páginas, capa de Floriano Teixeira, ilustrações de Iberê Camargo, retrato do autor por Flávio de Carvalho e foto do autor por Zélia Gattai. A mais recente é a 36ª edição, 11ª pela Record, publicada em janeiro de 1992, com as mesmas características.
No estrangeiro, o ABC de Castro Alves foi editado em Portugal e traduzido para os seguintes idiomas: espanhol, finlandês, francês, polonês, russo e tcheco.

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 Neste maravilhoso livro, Jorge Amado traça a vida do grande poeta Castro Alves de forma romanceada. Iniciando o livro com um caso amoroso de uma tia do poeta, que terminou em tragédia, desencadeando uma terrível guerra em duas famílias. Traça os primeiros estudos do poeta em Salvador, iniciando timidamente na poesia. Então sua partida para Recife onde inicia seu grande sucesso. Apaixonasse por uma atriz portuguesa que será o grande motivo de seu drama amoroso, e com apenas 21 anos já alcançando prestigio nacional.
Inicia uma viagem por Rio e São Paulo, onde consegue o prestigio de José de Alencar e Machado de Assis, passando assim a ser considerado o maior poeta nacional. Tem um dos pés amputados devido algum acidente de caça. Morrendo de amores por Eugenia que o havia deixado, retorna doente de tuberculose para Bahia, onde morre no seio familiar com apenas 24 anos. Escreveu grandes obras como O Navio Negreiro, A Cachoeira de Paulo Afonso, entre outros.

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“A praça é do povo, como o céu é do condor”, diz um dos poemas mais conhecidos de Castro Alves. Autor de Espumas flutuantesVozes d’África e Navio negreiro, ele ficou conhecido como o poeta dos escravos, graças a sua atividade abolicionista e às composições sobre a dor dos africanos cativos. As vivências precoces de coragem, romantismo e luta marcaram sua poesia, pautada pelo amor à liberdade.
     Antônio Frederico de Castro Alves nasceu no sertão baiano em 1847, numa época de disputas sangrentas, de amores proibidos e de lei feita ao sabor da vontade dos homens. Na infância, passada em Curralinho, hoje Castro Alves, e na capital Salvador, o pequeno Cecéu viveu suas experiências poéticas iniciais. Descobriu o amor e a morte nos mistérios da família da mãe, Clélia Brasília, e a importância da luta na convivência com o tio, João José. Agitador popular, o tio era o inverso do pai, o respeitável médico Antônio José Alves.
     Para contar a biografia de Castro Alves, Jorge Amado recua até o tempo dos ancestrais do poeta, para então reconstituir os fatos mais importantes de sua vida, como a descoberta de Byron e Victor Hugo, o caso de amor com a atriz portuguesa Eugênia Câmara, os estudos de direito no Recife e em São Paulo, os debates com Tobias Barreto, a amizade com Fagundes Varela, a campanha republicana ao lado de Rui Barbosa e Joaquim Nabuco e a morte por tuberculose aos 24 anos.
     Jorge Amado narra, de maneira apaixonada e em ritmo de romanceiro popular, a vida de um escritor que fez da poesia uma arma do povo e um instrumento da beleza, do compromisso e da esperança. O tom lírico e envolvente da narrativa vem combinado ao rigor histórico da pesquisa, à sensibilidade crítica do romancista e aos poemas de Castro Alves intercalados por Jorge Amado à trama biográfica.

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