Menino de Engenho
possui como narrador e personagem principal Carlinhos, que em sua idade adulta
narra aos leitores um pouco de sua história, que começa no Recife e passa pelos
engenhos nordestinos. Carlinhos, aos quatro anos, estava em casa quando seu pai
assassina sua mãe com um tiro. Seu Tio Juca vai buscá-lo para ir morar com seu
avô materno em seu engenho, chamado Santa Rosa. Chegando lá, ao ter contato com
o campo, fica encantado. Logo que chega, recebe cuidados carinhosos de sua tia
Maria. Aos poucos, vai se familiarizando com o ambiente e seus familiares até
então desconhecidos. A tristeza vai dando lugar à curiosidade de um menino
diante do desconhecido.
A rotina do engenho
com seus costumes e tradições diferentes da cidade, surpreende e encanta o menino.
A chegada de um cangaceiro, histórias contadas pelas negras da viagem até o
Brasil, lendas de lobisomem; tudo vai marcando sua infância. O menino vivencia
o sofrimento com as secas e posteriormente as enchentes, quando seu avô e os
outros senhores de engenho perdem tudo. Com isso, no engenho, o alimento fica
escasso, mas mesmo assim os servos não o abandonam, num laço de fidelidade.
José Paulino diz que escravo tem que ser bem alimentado para poder trabalhar
mais. Através dos passeios com seu avô pelo engenho para ver os problemas
existentes, aprende como o homem tem que ser justo, duro, tendo caráter e
bondade, ajudando quem precisa e merece, assim como faz Zé Paulino.
Apaixona-se por sua
prima Maria Clara, quando ela vem passar as férias no engenho, e tem com ela
seu primeiro beijo. Ela volta para a cidade, e ele fica muito solitário,
chegando a chorar. Na casa, é caçoado por tanto sentimento. Um dia, chega uma
carta do hospício onde seu pai está internado, e Carlinhos fica ciente da
situação. Ele então fica com medo de ficar igual ao seu pai. Carlinhos tinha
também muito medo de morrer. Por ter asma crônica, se sentia como um pássaro
preso; não podia tomar banho de rio, brincar até tarde, pois podia ter uma
crise. Era cercado de cuidados até que Tia Maria casa-se e ele se sente ainda
mais sozinho e solitário. Tia Sinhazinha que passa a cuidar dele.
Aos 12 anos tem seu
primeiro contato com uma mulher; uma negra chamada Zefa Cajá, e pega uma
“doença de homem”. Quando descobrem o que houve, prendem Zefa e todos fazem
piadas com Carlinhos, tratando-o como menino precoce, assim como seu avô.
Carlinhos sente que é um menino feito para a maldade. Era qualificado como
libertino, perdido, e não religioso. Sentia-se mal com tantos desejos sexuais.
Seu avô decide então colocá-lo num internato, como salvação. Carlinhos parte de
trem, já sentindo saudade do engenho onde passou sua infância e aprendeu tanta
coisa.
CONTEXTO
Sobre o autor
José Lins do Rego
Cavalcanti, Zélins, como era chamado, nasceu em 1901 no estado da Paraíba. Do
seu crescimento no mundo rural nordestino, retira muitas experiências que
servirão para suas histórias nos seus 13 romances publicados. Em 1926 muda-se
para Maceió, onde publica seu primeiro romance, Menino do Engenho. O romancista
recebe elogios da crítica e daí em diante suas publicações tornam-se
constantes. Em 1935, muda-se para o Rio de Janeiro e em 1955 é eleito para a
Academia Brasileira de Letras. Falece em 1957.
Importância do livro
Publicado em 1932,
Menino do Engenho é a primeira obra do autor, cujos exemplares foram custeados
por ele e quase todos vendidos. Aclamado pela crítica com entusiasmo, o livro
foi lido na época por grande parte do Rio de Janeiro e com isso recebeu o
conhecido prêmio da Fundação Graça Aranha.
Período histórico
Tendo como fundo os
engenhos do interior paraibano, o livro retrata de forma genial o cenário em
que a escravidão já terminara, mas o respeito, a servidão e o cuidado entre
senhor do engenho e escravos ainda existia. As relações de afetividade entre os
meninos, a sexualidade das negras, as secas e as enchentes são retratadas com a
pureza e verossimilhança de um menino.
ANÁLISE
Carlos, além de
personagem, é o narrador de O menino de engenho. Através de sentimentos
memorialistas e de recordações saudosistas e fiéis ao que passou, conta aos
seus leitores uma parte de sua infância, desde os quatro anos quando seu pai
assassina sua mãe, até os doze anos, quando é mandado para um internato e o
livro tem seu fim. O autor utiliza uma linguagem simples, direta, verdadeira e
própria de um menino; além de ser extremamente espontânea, passando pelos
sonhos, medos, curiosidades e amores. O autor mostra uma despreocupação com
moldes estilísticos, já prenunciando o movimento do modernismo. Através de tal
escrita, o autor toca seus leitores com profundas observações que um menino
ingenuamente faz sobre um engenho, onde com tantas complexidades, parece tão
simples aos olhos de uma criança.
Como cenário
histórico, é presente no livro o pós-escravidão, mas há a continuidade dos
laços de trabalho, confiança e respeito. Em troca de comida, casa e proteção,
os escravos trabalhavam nos engenhos e nas casas grandes. Com isso, as negras
contadoras de estórias, as crianças mulatas, as negras sedutoras, tudo faz
parte do cotidiano do engenho e é retratado pelo menino. A relação entre negros
e brancos é vista sob uma óptica positiva, de ganhos para ambos os lados. O avô
de Carlinhos, sendo um homem justo e protetor, tem a confiança dos negros,
chegando a exercer o papel da justiça, onde muitas vezes castiga àquele que age
fora da lei social. Um negro chega a ir para o tronco, mesmo não sendo mais
escravo segundo a lei.
Carlinhos é um menino
acanhado, tristonho e melancólico. Após a morte da mãe, se vê sem rumo, com
pessoas até então desconhecidas. Sente-se limitado e diferente das outras
crianças, e é assim tratado por ser o neto do coronel. Não pode brincar como os
outros, não pode ficar até tarde no sereno, e sente inveja da liberdade alheia.
Sua liberdade vai acontecer através de sua descoberta sexual aos doze anos.
Como caminho para o menino tornar-se homem, seu avô ao manda-lo para o
internato enxerga um desejo de sua filha. Carlos aceita e vai.
Porém, fazendo uma
conexão com "O Ateneu", ele não se vê como Sérgio, que era uma criança
ingênua. Carlos se vê como menino que já descobriu o que, segundo sua ideia, é
ser homem; mau, libertino e incontrolável. Ao ir para o internato, deseja fazer
a vontade de sua mãe e seu avô.
PERSONAGENS
Carlos: personagem
principal, muda-se para o engenho após ficar órfão. Asmático, é sempre cercado
de muitos cuidados de sua tia; com isso, inveja a liberdade dos outros meninos
saudáveis. Não é religioso e, após iniciar a vida sexual aos 12 anos, torna-se
um menino libertino. Segundo ele, feito para a maldade.
D. Clarice: mãe de
Carlos, assassinada por seu marido quando Carlos tinha quatro anos. Era meiga,
calma e muito amorosa.
Pai de Carlos: não é
declarado seu nome no livro. Enquanto Carlos morava com ele, dava muita atenção
ao filho. Era apaixonado por sua esposa, Clarice. Após o assassinato, ficou
internado num hospício.
José Paulino: avô
materno de Carlinhos. Era um homem justo, de caráter, respeitado, mas severo. Era muito admirado por Carlinhos.
Era o dono do engenho.
Tia Maria: irmã mais nova
de sua mãe, cuidou de Carlinhos enquanto morava no engenho. Era muito carinhosa
com ele e tentava substituir a falta que sua irmã fazia ao sobrinho.
Tia Sinhazinha:
cunhada de José Paulino, já de idade, cuidava da casa e era vista como uma
pessoa má. Todos tinham medo dela, principalmente os criados. Após o casamento
de tia Maria, ela cuida de Carlinhos e acaba se aproximando dele.
Tio Juca: filho de
José Paulino, vai buscar seu sobrinho na cidade para ir para o engenho. Juca se
envolve com as mulatas do engenho e nunca é castigado. Faz o que quer, sem
sofrer punições. Estas que, por vezes, acaba caindo sobre outras pessoas,
principalmente sobre os negros.
Totonha: senhora que
fazia visitas aos engenhos e contava muitas histórias para as crianças, o que
Carlinhos adorava.
Maria Clara: prima
mais velha que Carlinhos, viera da cidade passar um tempo no engenho. Carlinhos
se apaixona por ela aos oito anos e quando ela parte, ele sofre.
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